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sábado, 17 de outubro de 2020

A questão da Leitura

 A questão da prática leitora, creio eu, é a seguinte:

Ao longo dos anos, um individuo que tenha o hábito de ler é, na verdade, alguém que gosta de sua própria companhia e de suas próprias ideias, uma vez que ao se isolar para a leitura ele se constitui parte de um diálogo em que algo já foi dito e a resposta é apenas de viagem e crescimento interiores.

Parece confuso, mas a questão aqui não é senão o fato de que, com o tempo e com o acesso ao mundo via internet, as pessoas passaram a documentar publicamente todos os seus afazeres e seus momentos (quer sejam reais ou não...), impelindo-as a estar sempre em exposição, e isso as impede, em certa medida, de fazer algo pessoal e individual, que as faça enfrentar seus próprios medos e suas próprias ideias. A imersão e a introspecção, para aqueles que se sentem presos à rede, é um caso doloroso de desintoxicação.

Enquanto a pratica leitora tem mais a ver com um processo pessoal e com o aperfeiçoamento não visível, pelo menos inicialmente, no mundo virtual, por sua vez, a distração pode ser uma fuga da realidade e um placebo para as dores. 

Mas com a literatura, ao ler nas linhas e entrelinhas o que o pobre personagem sofre, nós nos conectamos a ele e, de forma humana, percebemos quem somos TODOS nesta engrenagem chamada existência. Talvez o personagem que nos faça reconhecer mais nossa humanidade seja o Menino do Pijama Listrado, a Alice ou uma personagem criada por uma autora indiana. A questão sempre é: quem somos quando estamos à sós, especialmente e literalmente?


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